sexta-feira, 4 de novembro de 2011

Queda Livre


ca.ir
(lat cadere) vti e vint 1 Descer no espaço, em virtude da gravidade, quando libertado da suspensão ou suporte: Cair ao solo. A pedra caíra na sala. Os soldados iam caindo pelo despenhadeiro abaixo. O suicida caiu sobre um transeunte. Caíra e morrera.
(Dicionário Michaelis - versão digital)

Cair.
Tá para existir sensação mais estranha.
Mais estranha que os 19 significados apontados pelo Dicionário Michaelis para a palavra cair.
Ufa!
Digo cair no sentido de ir ao chão.
De perder todo o referencial por uns minúsculos segundos e encontrar o solo.

O chão é o limite, Senhores.
O limite horizontal.
O limite que nos dá um ponto de partida e um ponto de chegada.
Mas esquecemos.
Esquecemos que o chão existe e que está ali só pra isso.

Você está todo seguro de si e de repente...
Chão.
Um flash nas alturas/Um flash no chão.
Tudo muitíssimo rápido.
Aí você acorda.
Percebe que você não é essa Coca Cola toda.
Que você é fraco.
Que você - todo poderoso e seguro de si - não é capaz de impedir uma simples queda.
Por quê?
Porque você não sabe quando pode cair.

Ué?
Por que nos seguramos em algo/alguém quando achamos que podemos cair?
Por que tanto medo? Mesmo quando a queda parece ser incapaz de gerar qualquer lesão.
É o medo da sensação de cair.
O medo da impotência proporcionada por cair.
É preciso sempre estar por cima, vivendo no limite da verticalidade, longe da horizontalidade.

Um dia o horizontal caiu sobre meu vertical.
Um pedaço do teto da minha casa caiu sobre mim.
É verdade.
Fiquei sujo de terra e com gosto de reboco na boca.
Um gosto ruim. Tão ruim quanto a sensação de cair.
Não queremos a terra.
A origem de tudo.
Não queremos perder os referenciais.
Mesmo aqueles que nem percebemos.
Querems a segurança.
Não queremos o gosto da terra.
Eu devia ter lambido a terra que ficou em meus lábios.
Era o gosto da queda.
Não da minha.
Era a queda do horizontal sobre o vertical.

A verdade é que não estamos prontos para cair.
Não queremos a impotência.
A sensação da fragilidade.
Coisas frágeis caem e quebram.
Não se pode quebrar.

Somos feitos para durar.
Mas temos medo de quebrar.
Cair é isso.
É
quando se é libertado da suspensão ou suporte.
Não sou eu quem digo.
É o Michaelis.
Meu velho amigo Michaelis.

Por isso eu digo:
É preciso cair.
Não! Não vou dizer que o importante é levantar depois!
Mas é preciso cair.
Não para se levantar.
Mas para lembrar que se está vivo.

Para lembrar que não somos eternos.
Para lembrar que somos mortais.


A Dan Wheldon e Marco Simoncelli
, que fizeram do limite a vida e nos lembraram que (ainda) somos mortais.

Um comentário:

Paula Ceotto disse...

Acho tudo isso muito lindo e singelo. E forte. E me deixa emocionada.

A homenagem é um primor.

Estou feliz de poder ser tocada por esta 'queda livre'.