sábado, 2 de outubro de 2010

E se hoje fosse o último dia?

Já faz algum tempo que tenho pensado nisso...

Você aceita fazer um exercício de imaginação comigo? Se sim, vamos lá!

Situação hipotética 1: Por algum motivo fui informado de qual será o dia exato de minha morte. Sim. Com precisão e sem chances de erro. Inclusive, morrerei às 23:50 (o mesmo horário em que nasci). Hoje é a véspera desse dia. Já cuidei de todas as questões burocráticas e agora me resta um dia todo para que eu dê os últimos suspiros. São 22 horas da véspera e paro para pensar no que farei amanhã para usar as últimas horas que me restam. Virar a noite acordado? Não... Uma das coisas que sempre tive prazer em fazer na vida foi dormir, logo, não quero perder essa última chance. Acordar que horas? Umas 4 da matina e ir até a praia ver o sol nascer? Não. Acordando todos os dias às 5:30 eu sempre vi o nascer do sol, apesar de nunca ter me atentado muito para isso. Por que fazer isso só agora, no último dia? Eu estaria enganando a mim mesmo! Ok, então, nada de nascer do sol. Acordarei umas 9 horas. E o resto do dia? O que fazer? Como planejar o que fazer no último dia? Já sei. Farei coisas que nunca tive coragem e/ou tempo de fazer. Hum, o dia será chuvoso, do jeito que sempre gostei! Então vou tomar um último banho de chuva, daqueles bem demorados, capaz de deixar a camisa colada ao corpo. Depois vou entrar no meio de uma pelada de rua com crianças e jogarei com elas uns minutos, no meio da lama deixada pela chuva. Quero um último momento com os meus amigos. Não uma festa, porque nunca fui o tipo de cara que curtiu festas, principalmente, aquelas feitas para mim, afinal, sempre fiquei um tanto o quanto envergonhado, sem jeito (tímido), apesar da gratidão que festas assim proporcionam. Quero um encontro casual com eles. Ouvir a história do alistamento do Tob's e das morsas uma última vez. Rir ao relembrar de alguns momentos hilários vividos juntos. Ah, também quero ver um bom jogo de futebol: um Boca Juniors X Palmeiras como aqueles das Copas Libertadores da América de 2000 e de 2001 (mas com o Palmeiras vencendo no fim). Quero dizer um "hasta la vista" e um "eu te amo" para alguns familiares. Quero ler um pouco de literautra. Quero também tocar a campainha da casa (que não sei onde fica) daquela garota e dizer assim: "Desde que te vi a 1ª vez, gostei de você. Tentei te dizer isso de "n" modos, mas acho que não me fiz entender claramente ou você fingiu não perceber. Nunca tive a certeza da sua certeza, por isso hoje quero tê-la. Me diz apenas um 'sim' ou um 'não' e terás dado a resposta que nunca encontrei. De qualquer modo, queria passar aqui para te ver uma última vez." O fim da cena pode ser um beijo de filme ou um "não" educado. Mas de qualquer forma eu poderia "dormir em paz", arrependido do tempo perdido ou certo de que não perdi nada. Eu também quero dar abraços em estranhos, sorrir e gargalhar com desconhecidos, ouvir histórias de mendigos, ser amigo dos sem amigos. Enfim, não sei se dará tempo de fazer tudo, afinal, como diria Paulo Leminski: "Haja hoje para tanto ontem", mas eu quero fazer todas essas coisas amanhã...

Situação hipotética 2: Já são 16 horas de mais um dia comum, de um dia em que nem me passa pela cabeça morrer. Mas e se, de surpresa, eu morrer hoje, agora? O que eu não terei feito? Terei deixado de dizer aos meus amigos o quanto eles são importantes para mim. Terei deixado de dizer "eu te amo" a muitas pessoas por vergonha ou por achar que isso sempre esteve implícito no conviver do dia-a-dia junto delas, por exemplo, à minha mãe (não devo ter dito isso para ela nem umas 50 vezes na vida, o que é muito pouco, apesar do amor incondicional que tenho por ela). Terei deixado de ter feito coisas que deram vontade por falta de tempo ou por pura vergonha. Terei deixado de dizer, hoje de manhã (02/10) àquela garota da hipótese 1, ao invés de um tímido "oi", que ela estava muito bonita de amarelo, apesar de eu a achar sempre linda e de ela ser mais bonita de roxo; terei deixado de dizer muitas outras coisas a essa mesma garota. Terei deixado de começar a escrever o meu livro. Terei deixado de abraçar e de gargalhar com desconhecidos na rua. Terei deixado de ter sentido "n" sensações que nunca senti. Terei deixado de ir à Buenos Aires e à "La bombonera". Terei deixado de começar a correr (sim, correr; simplesmente correr, como o Forrest Gump). Terei deixado de ajudar muitas pessoas quando pude. Terei deixado de ter feitos muitas perguntas que teriam mudado o rumo da vida. Terei deixado de arriscar, de "pôr a faca entre os dentes" em momentos que me acovardei. Terei deixado uma vida inacabada.

Enfim, o que quero dizer é que seu último dia pode ser daqui a muitos anos ou pode ser... HOJE. Você não sabe e NUNCA saberá quando ele será. Então, não desperdice o seu tempo, faça tudo que puder para aproveitar tudo; busque tornar certeza algumas incertezas. Na pior das hipóteses, hoje não será o seu último dia e você poderá viver tudo de novo amanhã, com ainda mais intensidade. Você pode usar amanhã para fazer tudo aquilo que não deu tempo de fazer hoje, já pensou?

Não digo que seja fácil viver assim, mas digo que dá, isso só depende de você e da sua vontade. O depois pode ser tarde demais e pode nem chegar...

[Fui inspirado por uma propaganda de carro na qual um cara acorda, pega uma lista e faz todas as coisas que têm anotado nela, como se fosse o seu último dia. Mas no dia seguinte ele acorda e pega uma nova lista para fazer tudo aquilo que ainda não fez, como se o novo dia pudesse ser o seu último dia. Detalhe que dentro da gaveta que ele pega a nova lista tem muitas outras do mesmo tipo]

3 comentários:

Anônimo disse...

Belo texto, embora eu tema que muito do que expressamos nestes termos apenas seja bonito na hipótese, tal como o Socialismo ou a Democracia.
A prática dessas ações mínimas por vezes se encontra envolta de múltiplas correntes que nossa razão parece não nos permitir romper, e então o verbo acaba por se perder no vazio da nossa inação.
Fica a questão que lanço: a hipotética donzela aguardará até o insuspeito último dia para que saiba o que há tempos vem sido mantido sob a clausura de um racionalismo que não encontra fundamentos em si mesmo, ou as palavras saltarão de sua cela no papel virtual para ganhar a realidade, independente dos resultados que possam acarretar?
O último dia será sempre postergado até que chegue realmente, por mais que o ser humano diga que é preciso viver cada dia; neste exato momento, tudo o que expôs passa a fazer sentido em nossa mente e nos perguntaremos porque não nos demos ao mínimo luxo de ousar.

"Ken wo nigirarekereba
omae wo mamorenai

Ken wo nigitta mama de wa
omae wo dakishimerarenai"

Don Quasímodo disse...

É nestas horas que eu me julgo um cara de sorte! Afinal, ninguém comenta nesse blog só para dizer coisas do tipo: "está muito bom"; "legal"; "continue assim" etc. Vocês sempre trazem ideias novas, desenvolvem mais os temas, isso é gratificante! Obrigado, Sr. Anônimo, pelo comentário construtivo!

Quanto ao conteúdo do seu comentário, concordo que seja um tanto quanto hipotético o tipo de discurso que apresento no texto, pois, de fato, ideias assim não são colocadas com tanta facilidade na vida concreta. Mesmo sabendo disso, escrevi na esperança de tentar reafirmar tais ideias (para mim mesmo e para todos os que precisam), pois é sempre bom lembrarmos (ainda que seja uma vez ao dia) que não temos todo o tempo do mundo, pois isso nos lança com um pouco mais de coragem na direção da concretização de nossos desejos.

Quanto à questão da donzela (você me deu um xeque-mate), é contraditório com as ideias que defendo no texto (se bem que em assuntos afetivos não há lógica, tudo é uma grande contradição), mas, infelizmente, creio que as palavras nunca (apesar de eu não gostar de usar essa palavra) saltarão da cela no papel virtual para a realidade; pensando bem, talvez nem no insuspeito último dia. Por quê? O meu racionalismo sem fundamento em si mesmo indica que ela gosta de outro, mesmmo estando solteira. É difícil ter coragem de ousar numa situação assim, mesmo na iminência (sempre presente) de um último dia...

Por fim, concordo que é muito difícil termos coragem para ousar na vida por sempre estarmos (de maneira um tanto o quanto soberba) postergando o último dia. Mas aí eu trago novamente à tona o objetivo do texto: é preciso estarmos sempre nos esforçando para pensar que hoje pode ser o último dia, pois somente assim teremos mais momentos de ousadia na vida. Um ato de ousadia por dia, para quem nunca ousa, já pode ser um começo...

Enfim, obrigado, mais uma vez, pelas ideias apresentadas. Volte mais vezes!

PS: Bela reflexão essa que você deixou ao final (se encontrei a tradução correta no google... hehe)!. Concordo que não devemos empunhar a espada o tempo todo, ainda que isso possa representar um pouco menos de segurança.

Black Knight Órion disse...

Saiu anônimo pq eu acabei esquecendo de marcar a acc do google. Mas sou eu, meu caro.
Quanto ao pequeno poema, o escolhi por revelar justamente o conflito que existe nas escolhas do ser humano e seus resultados; ousar quando se pode perder algo é válido, mesmo quando o que está em risco é precioso? A maioria de nós não acredita que seja, e acabamos por lamentar nossas escolhas no fim.
E assim é: apenas continuar empunhando a espada não te dará o que realmente deseja, mas deixá-la de lado o torna vulnerável. Como conciliar? É a pergunta que a humanidade se faz todos os dias.